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A justiça para os corpos gordos e os feminismos não-hegemônicos: começar um diálogo

By 21 abril 2022LAWA news

By Gabriela Quevedo

O movimento por justiça para os gordes, pelo “orgulho gordo” [1] (chamado também de aceitação de todos os tamanhos e medidas, justiça corporal, aceitação corporal, movimento para a liberação de gordes) se desenvolveram nos anos 1960s, principalmente por parte das lutas das mulheres gordas, especialmente mulheres negras e de cor nos Estados Unidos, que resistiram a discriminação interpessoal e institucional por parte do sistema de saúde, do mercado de trabalho e em todos os outros âmbitos da vida que possamos imaginar.  

Estes infográficos demonstram melhor (no momento disponíveis apenas em inglês): 

Crédito de imagem: Vinny Welsby @fiercefaty

A gordofobia é uma forma de intolerância, estigma ou discriminação contra pessoas gorda que está amplamente aceita socialmente, e que gerou resistências lideradas por e para as pessoas gordas, em particular as mulheres gordas.  Esse ativismo [2] ocorreu tanto no nível de base quanto em espaços organizacionais mais formais. Recentemente há também formas de expressão e ativismo online que trazem contribuições interessantes.  FAT-LED 

Parte da resistência contra a gordofobia implica que nós, gordos, ressignifiquemos a linguagem e a deslastremos da conotação negativa e estigmatizante que infelizmente essa possui a nível social.  

Crédito de imagem: Contra la gordofobia y a favor de la diversidad y salud en todos los tamaños @OrgulloGordo

Image credit: Social Media Campaign Reframing World ‘Ob*sity day as a Global Day against Fatphobia; led by Latin American FatActivists

O medo do corpo gordo e a associação da gordura como uma característica negra (e, portanto, um instrumento para tratar com diferença, marginalizar, minorizar e aterrorizar a nós mesmos e aos outros), tem sido bem documentado mais recentemente pela autora Sabrina String no seu livro de 2019 Fearing the Black Body – The racial origins of Fat Phobia (disponível somente em inglês).  

Mas a discussão pública sobre este tipo de opressão em particular e como ela opera de uma forma muita oculta e normalizada de violência contra as mulheres e crianças, sobretudo as meninas que ainda estão na sua infância. E é ESSA a discussão que gostaríamos de ampliar. 

Fearing the Black Body – The racial origins of Fat Phobia (disponível somente em inglês).  

Aprendemos a nos desculpar por nossa própria existência e crescemos no espaço complicado e liminar do desejo de sermos vistos, ouvidos e reconhecidos, ao mesmo tempo em que somos ignorados, desumanizados e/ou hiper visibilizados. 

Mas embora a vergonha corporal afete todas as mulheres e meninas, independentemente do peso, ela oprime de maneira sistemática às mulheres gordas, e como nossa lente interseccional nos faz entender que as mulheres gordas negras e minorizadas são as mais expostas a esse dano. E tudo isso, em nossas formações sociais atuais, foi fortemente enraizado em nosso DNA cultural através dos colonizadores brancos que associaram os corpos gordos à negritude como um dispositivo para impor sua superioridade. 

Crédito de imagem: Kanoelani Patterson @yamalo17 @ThePowerliftingSocialWorker

Somos ensinadas e aterrizadas a acreditar que a gordura é sinônimo de vergonha, inferioridade moral, de ser preguiçoso, pouco inteligente e indisciplinado. A cultura da dieta e do ideal de beleza de branquitude e magreza é uma função da supremacia branca e perpetua de maneira perversa o estigma do peso e a discriminação, enquanto mantém viva e bem alimentada a indústria da dieta que lucra com ela, e dá ferramentas mais sofisticadas aos perpetradores de violência para exercerem seu poder e controle. 

Como se supõe que isso é um diálogo, proponho três convites para despertar seu senso crítico:  

CONVITE 1: 

Pare alguns segundos para pensar sobre o que você considera bonito.  
Onde você aprendeu isso?  
Quem te ensinou isso?  
Quanto tempo levou para aprendê-lo? [3]

CONVITE 2: 

De que maneira você acredita que não é suficiente?
Como você se comporta por causa dessas crenças?
A vergonha corporal / comentários gordofóbicos tem sido usado como uma ferramenta para exercer violência interpessoal contra você?
Você pode pensar em maneiras de agir diferente, não só individualmente, mas coletivamente?
Estes sistemas de comparação e categorização social (a escada de hierarquias corporais, como foi chamado por Sonya Rene Taylor), são perpetuados socialmente por nosso investimento contínuo nas narrativas, práticas culturais e políticas que tentam esconder o fato de que nossos corpos são políticos. Portanto, não se engane: ESTA conversa sobre o amor-próprio radical não se trata de complacência, mas da justiça social.

Trate-se de ser curioso sobre os sistemas, abordar debates sobre os privilégios e criar comunidades onde fazemos esforços intencionais para mudar o desequilíbrio causado pelas desvantagens em que nascemos.

CONVITE 3: 

Quão similar é seu corpo a um corpo “normativo”/convencionalmente “bonito”? 
Reserve alguns segundos para refletir sobre as maneiras pelas quais não pensar em seu corpo de maneira política é um detrimento de todos os outros que não tem esse luxo. [4]

Inspirado pelo trabalho de

Orgullo Gordo @orgullogordo
Agnes Arruda @tamanhoggrande #OPESOEAMÍDIA
Marquisele Mercedes @marquisele
Sonya Renee Taylor @Sonyareneetaylor
Virgie Tovar @virgietovar
Sabrina String @SaStrings
Roxane Gay @rgay

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[1] Virgie Tovar. The Self-Love Revolution (The Instant Help Solutions Series) (p. 22). New Harbinger Publications. Kindle Edition.
[2] This traces back to the Fat underground and their Fat Liberation Manifesto, through to the foundation of the national     association to advance fat acceptance –NAAFA- in the USA.
[2] For the most comprehensive efforts to systematise and popularise this scholarship, please check Marquisele Mercedes     (@marquisele) Fat studies &  Public Health syllabus
[4] To unpack this more, feel free to explore Sonya Rene Taylor’s you tube channel’ video entitled: Why Body Neutrality Doesn’t Work For Me: Bodies Are Political